Os Desafios do Planejamento da Demanda
Planejamento da demanda é um tema muito complexo, extremamente controverso e que exige a atenção de todas as empresas. Se em tempos passados, de águas mais “calmas” já não era fácil entender com a precisão desejada, o comportamento da demanda futura, agora vivemos uma época muito mais “turbulenta”, onde as empresas estão inseridas em grande parte, em ambientes de competição acirrada, mudanças constantes de produtos devido a evolução tecnológica e dos próprios clientes, cada vez mais exigentes.
Tecnologia de Informação e as Incertezas da Demanda
Para muitos planejar a demanda ainda é apenas realizar as previsões futuras baseadas no contexto passado utilizando-se de modelos qualitativos (empíricos) ou matemáticos (científicos), de forma a se obter uma tendência de como os produtos serão demandados pelos clientes. Segundo pesquisas, a atividade de forecast (previsão) continua sendo o maior desafio para o sucesso dos modelos de planejamento das organizações, mesmo em plena era da Indústria 4.0.
Embora as ferramentas matemáticas, softwares especialistas e os modelos de aplicação tenham avançado rápida e fortemente com a evolução da tecnologia da informação, ainda não se descobriu (e nem irá se descobrir) o chamado modelo adivinhativo, ou seja, sempre existirá o fator da incerteza como componente de uma previsão. Isto significa que qualquer ferramenta, por mais desenvolvida ou complexa continuará tendo um componente de imprecisão com o qual continuaremos a ter que conviver em qualquer previsão.
Demanda Independente
Mesmo hoje, ainda há muita confusão dentro das organizações sobre conceitos bastante simples como demanda dependente e demanda independente.
Para a demanda independente, aquela gerada pelo mercado e cliente, sobre a qual não temos como determinar, faz todo o sentido, em boa parte dos casos, a aplicação de modelos e algoritmos de previsão, considerando a sua decomposição nos diferentes componentes que a possam originar, como fatores sazonais, aspectos econométricos vinculados a variação de renda, ciclo de vida do produto, entre outros. Essa combinação por si só, exige um tratamento que nem sempre consegue ser dado apenas por equações matemáticas. Isto significa, a necessidade da combinação de fatores qualitativos, que envolvem inclusive a experiência e os cabelos brancos de profissionais especialistas, bem como, informações antecipadas que podem ser coletadas junto aos próprios clientes e fontes da demanda final.
Demanda Dependente
A demanda dependente, porém, é aquela que está diretamente vinculada a demanda independente e, portanto, está relacionada ao que chamamos de oferta (nossa organização) e pode ser calculada. Está relacionada a capacidade de produção e ao processo de suprimentos, onde o cuidado deve ser grande e a tratativa diferenciada.
Devem ser aplicados conceitos e ferramentas de planejamento relacionadas aos produtos e processos, como por exemplo a explosão da necessidade de materiais através do MRP (Material Requirement Planning – Planejamento da Necessidade de Materiais) para a decomposição dos produtos de demanda independente em seus componentes e matérias-primas, e o MRP II (Manufacturing Resources Planning – Planejamento dos Recursos de Manufatura), para o planejamento da utilização dos recursos da produção, com recursos associados como APS – Advanced Planning and Scheduling (Planejamento e Programação Avançadas), sequenciadores de produção e SFC – Shop Floor Control – Controle de Piso de Fábrica.
Gestão Integrada
Desta forma, é importante destacar que o Planejamento da Demanda envolve um ambiente de informações muito mais amplo compreendendo, para a demanda independente, as atividades de segmentação de mercado, tipicamente apoiados por marketing e vendas, que deve atuar em conjunto com as áreas responsáveis pela oferta, como o PPCP – Planejamento, Programação e Controla da Produção, o Planejamento de Materiais – Compras e Suprimentos, Comércio Exterior – Importação, Logística e Transportes, em um contexto que hoje chamamos de Gestão Integrada.
Não por acaso hoje o Planejamento da Demanda já não é algo tratado puramente como atividade isolada das áreas de Marketing ou Comercial da Organização, mas também e principalmente como uma atividade de Supply Chain, onde os aspectos da Logística Integrada e da Intralogística tem grande participação na sua execução.
Omicanalidade, Fullfilment, Marketplaces e as Mudanças do Comportamento do Mercado
Nestes últimos anos com o crescimento da Logística através de novos canais e modalidades de Fulfillment, o atendimento ao cliente de uma forma geral tem mudado completamente, destacando-se os modelos Omnichannel, que se baseiam na colaboração e complementação de diferentes canais para atendimento de determinadas demandas. Estamos vivendo uma completa mudança uma forma de pensar, estruturar e executar as atividades de planejamento da demanda.
Estamos mudando de um mundo onde o fluxo natural seguia linearmente da indústria para a distribuição e da distribuição para o consumidor, para um modelo que não mais segue obrigatoriamente essa lógica. Hoje uma Loja pode ser um CD (Centro de Distribuição), um CD pode ser um Hub de Consolidação e um Posto de Gasolina pode ser um ponto de retirada de um Supermercado.
Com o avanço do e-commerce a taxas de crescimento muito mais rápidas que as do varejo tradicional, a implementação de modelos de omnicanalidade, e o desenvolvimento do transporte com ampliação de uso de modais de entrega cada vez mais fracionada e frequente, nós temos hoje o surgimento por exemplo dos marketplaces, onde o vendedor não tem estoque muitas vezes, passando a tratar produtos Make to Stock (produzidos para estoque) como produtos Make to Order (produzidos contra pedido), através de parcerias e modelos de integração tecnológica onde o fluxo da informação e as cláusulas de SLA – Service Level Agreement – Acordo sobre Níveis de Serviços, são fundamentais para a agilidade do sistema.
Para apoiar a operacionalização, novas formas de contratação e gestão de transportes (empresas gestoras de aplicativos) e tecnologias que atualmente são inovadoras como veículos autônomos e drones, tem sido aplicadas, em conjunto com modelos de Planejamento Integrado, como CPFR (Planejamento Colaborativo) e VMI (Estoques gerenciados pelo fornecedor).
Com todos esses pontos comentados acima é importante que revisemos os nossos conceitos sobre o tema, e de que forma podemos integrar as atividades num contexto colaborativo no ambiente da nossa empresa e envolvendo fornecedores e clientes, pois o planejamento da demanda não é apenas função pontual, mas sim uma atividade integrada e que deve ser realizada pelas diversas áreas da organização.
Afinal, o Planejamento da Demanda, que já não era simples, a cada dia fica mais complexo com as novas variáveis que são inseridas constantemente pelo mercado e pelos modelos de gestão e execução da Cadeia de Abastecimento. O segredo é aplicação de tecnologia e modelos de gestão integrada.