Design 4.0 e o Novo Perfil Profissional
Não basta apenas conhecer as diferentes tecnologias e soluções 4.0 aplicadas às operações (manufatura, logística e serviços). O “design” operacional se transforma e abre espaço para um novo perfil profissional.
Com a retomada gradativa de investimentos em Supply Chain, Logística e Intralogística no Brasil, o Grupo IMAM investiu, nos últimos 6 meses, nos principais eventos mundiais do setor e foi conferir as tendências do setor no Japão, Alemanha, Suíça, Estados Unidos e Espanha, principalmente aquelas relacionadas com a “Onda 4.0” e o que já faz parte do presente e do futuro de muitas organizações.
O NOVO CENÁRIO
Embora a realidade tenha mudado completamente, alguns profissionais ainda preferem entender que somente as soluções/tecnologia evoluíram e que a essência das operações continua a mesma.
NÃO! NÃO CONTINUA!
Alguns exemplos de que a realidade mudou e muitos ainda não perceberam podem ser observados na utilização das famosas “frases de efeito” que já fizeram muito sucesso no passado, mas que não deveriam ser tratadas como verdades absolutas. Vejamos 4 delas:
1. “Keep it simple, stupid” (“Mantenha isto simples, estúpido”);
2. “O ótimo é inimigo do bom”;
3. “One Piece Flow” (“Fluxo de Uma Peça”);
4. “Menos é mais” ou “Menos estoque, mais lucro”;
Você já utilizou alguma delas? Eu já! Mas cuidado em QUE, COMO e ONDE emprega-las.
Estas frases são ótimas para influenciar profissionais na busca de uma operação que funcione com eficiência ou para reduzir riscos operacionais ou ainda para implementar uma operação “lean” (enxuta). Enfim, todas elas são válidas ainda hoje, mas que tal estudar melhor o novo cenário e perceber que:
1. O complexo também é uma alternativa válida!
Você realmente acredita que, por exemplo, as organizações “TOP” em Supply Chain investem em “design” simples? Coletar, processar e/ou analisar milhares de variáveis e infinitos dados por meio de soluções de tecnologia e daí extrair conhecimentos que sustentam estratégias e tomadas de decisões vencedoras é uma tarefa simples? Me dê atualmente um bom motivo para que não possamos trabalhar com soluções simples aliadas às complexas.
2. Por que não investir no “ótimo”?
É absolutamente legítimo influenciar as pessoas para que se invista ao menos no “bom” e não ficar eternamente sonhando com o “ótimo”. Mas, a partir daí, simplesmente ignorar as soluções “ótimas”, fruto de estudos e desenvolvimento de profissionais brilhantes que, ao redor do mundo, transformaram tais soluções em algoritmos, tecnologias entre outros produtos avançados, me parece completamente sem sentido. Afinal, de que vale estudos, treinamentos e desenvolvimentos se não nos desafiarmos continuamente na busca da excelência?
3. O “lean” e determinados conceitos e princípios relacionados integram uma estratégia e não uma religião!
O objetivo de uma empresa não é fazer “fluxo de uma peça”, “produção puxada” ou mesmo aplicar o “lean”. O objetivo da empresa, neste ambiente “4.0” pode também ser alcançado com “fluxo em lotes”, “produção empurrada” ou mesmo sem aplicar a estratégia “lean”. Se isso é difícil de compreender, reflita e identifique as melhores práticas adotadas por várias empresas de referência.
4. E se eu sugerir aumentar os estoques? Estarei fora da realidade?
Após anos de pressão por produtividade ao bom estilo “Menos é Mais”, a implementação de novas estratégias “4.0” mostra que caminhos alternativos tais como o “Mais é Mais”, “Mais é Menos” e “Menos é Menos” são viáveis também.
Isso não significa que o “Menos é Mais” perdeu seu espaço, mas sim que a tecnologia nos permite quebrar paradigmas e construir cenários “disruptivos” ainda antes não considerados.
Desta forma, a partir de uma adequada reflexão sobre estas abordagens, pode-se compreender melhor o que está por trás de aplicações “4.0”, que muitas vezes são analisadas sob uma ótica de eficiência local e não como uma estratégia de eficácia global. E este tipo de análise é um dos principais motivos que dificulta o ROI (Retorno sobre os Investimentos) de determinadas soluções “4.0”. A abordagem da análise de viabilidade de projetos “4.0”, que tem como princípios a conectividade, a qualidade de informação, os sistemas autônomos, entre outros, não deveria ser LOCAL, mas sim GLOBAL!
DESIGN 4.0
“Design 4.0″é uma nova abordagem de gestão corporativa que integra os princípios do “Design Thinking” e da Governança Criativa com as Soluções 4.0 que transformam os negócios.
O planejamento operacional, seja na manufatura, logística ou em áreas de serviços, sempre demandou investimentos de curto, médio e longo prazo que denominamos, desde os anos 1980, de Planos Diretores.
Evidentemente que um Plano Diretor Industrial ou de Supply Chain sempre foi estratégico, mas o “Design 4.0” abrange estratégias de diferentes áreas (“silos”) organizacionais, muitas vezes consideradas premissas em Planos Diretores tradicionais. Estratégias comerciais, de marketing, desenvolvimento de novos produtos, entre outras, ganham relevância e podem impactar em todo o planejamento estratégico corporativo.
KPI’S 4.0
Enquanto Planos Diretores tradicionais podem ser pautados por indicadores mais táticos (ex.: OEE, OTIF etc.), o planejamento com foco no “Design 4.0” deve ser pautado por indicadores mais estratégicos (ex.: ROI, EBITDA, Satisfação de Clientes etc.). Assim, a partir da simulação de diferentes realidades 4.0, pode-se avaliar o comportamento dos indicadores (KPI’s) e o desempenho de cada plano.
Exemplos de simulações de cenários 4.0:
1. Como ficam os resultados de um varejista se uma estratégia de entrega baseada em compras “on-line” e retirada em “lockers” (armários inteligentes) expandir para 10%, 20% ou 30% da demanda?
2. Qual seria o desempenho operacional a partir da aplicação de uma solução de “Robot Pickers” colaborativos em ambientes de lojas que, cada vez mais, atuarão também como polos de distribuição para o e-commerce?
3. Se os testes que estão sendo realizados no Brasil para uso de drones mostrarem viabilidade técnica e econômica, além de serem regulamentados para tal, quais serão os impactos em toda a cadeia de suprimentos?
Para cada cenário simulado obtém-se resultados locais e globais que mostram os caminhos da estratégia 4.0. Obviamente, não existem certezas a respeito das melhores estratégias a serem adotadas, mas é fato que apenas as empresas que ousarem fazer diferente poderão contar com a probabilidade do sucesso.
PROFISSIONAL 4.0
Independentemente de sua especialidade, formação ou cargo, mesmo atuando em funções que tendem a desaparecer, você não estará fora do mercado de trabalho futuro se começar a agir, desde já, como um Profissional 4.0.
5 (cinco) aspectos que caracterizam o Profissional 4.0:
1. Qualidade da Informação: o ambiente 4.0 demanda informações de qualidade e o profissional 4.0 deve sempre buscar alternativas para aprimorar continuamente a capacidade para gerar as mesmas (ex.: apontamentos, motivos de paradas operacionais, ocorrências diversas etc.). Profissionais que demonstram este compromisso serão cada vez mais valorizados;
2. Conectividade: o profissional 4.0 deve estar atento às oportunidades/ideias para que as diversas operações de toda a cadeia de suprimentos possam estar conectadas em tempo real. Por exemplo, em uma empresa cliente da IMAM, que está implementando a metodologia “Kaizen”, obteve por meio de seu colaborador uma ideia baseada no apontamento direto via sistema ao invés de apontar por escrito em um formulário e somente depois ser lançado no sistema. Incentivar iniciativas como esta é fundamental, pois este profissional será sempre bem-vindo em um ambiente 4.0;
3. Sistemas Autônomos: o profissional 4.0 deve se perguntar continuamente se a automação em determinadas operações é ou não viável. Comportamentos como este não devem vir apenas de níveis estratégicos/táticos, mas também operacionais. A automação será apoiada e defendida pelo profissional 4.0 sempre que a mesma viabilizar o aumento da competitividade da empresa e o crescimento do negócio;
4. Mudanças: se a mudança já era regra, agora ela vem com maior frequência e/ou intensidade e o profissional 4.0 deve estar preparado para sempre ESTAR em ótimos trabalhos/projetos ao invés de TER um bom emprego;
5. Humildade, Respeito e Relacionamento: basta o cenário mudar para que, muitas vezes você deixe de ser o “MESTRE” e passe a ser o “APRENDIZ” ou vice-versa. Entenda o real significado e a importância destes 3 temas e reflita… “Será que já estou 4.0?”.
CONCLUSÃO
Investir em “Design 4.0” é certeza de sucesso? Definitivamente, NÃO! Em um cenário cada vez mais incerto, não existe mais espaço para certezas!
Atualmente, até as grandes empresas, marcadas por grandes inovações, enfrentam o desafio de continuar inovando… a opção por adquirir ao invés de desenvolver soluções/empresas inovadoras é muitas vezes mais viável.
E é justamente neste ambiente, onde os grandes também enfrentam desafios, que as “pequenas ideias” tem espaço para se transformar em grandes inovações nas mãos de profissionais 4.0.
E você? Já está preparado?
Sucesso e vamos em frente!
Autoria Eduardo Banzato, diretor da IMAM
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