O Eficiente “Caos” na Logística do E-Commerce
Quando “bagunçar” o armazém é o melhor a se fazer?
Em 1999, pouco após o Instituto IMAM publicar o livro WMS – Gerenciamento das Operações de Armazéns, mostrando as possíveis funcionalidades deste sistema, foi desenvolvido um planejamento logístico para uma multinacional, aqui no Brasil, mostrando tecnicamente que, no seu centro de distribuição (hoje “Centro de Fulfillment”), a partir da implementação de um WMS um pouco mais “inteligente”, seria possível obter muito mais VELOCIDADE e QUALIDADE na operação logística.
Na época, a proposta assustou toda a diretoria e, em um primeiro momento, foi dito: “onde já se viu misturar diferentes famílias de produtos (entre mais de 10 mil SKU’s) em uma mesma prateleira e ainda considerar um sistema de endereçamento dinâmico e não fixo. Vamos perder o controle! Esqueçam esta proposta!”
Pois é… apesar da equipe do projeto ter até ficado com uma imagem de “louca” por conta da ideia, mais de 20 anos se passaram e muitas empresas no Brasil acabaram implementando este conceito e, em boa parte, “disfarçado” de automação. Sim, muitos sistemas de automação já incorporaram algoritmos inteligentes integrados em seus WCS – Warehouse Control Systems que, por sua vez, controlam itens misturados em uma mesma prateleira.
Porém, ainda hoje, avaliando empresas menos automatizadas no Brasil, continua sendo um grande “tabu” operar com itens misturados em prateleiras, ainda mais se considerarmos itens misturados em um mesmo endereço. Meu Deus… diria alguns.
A referência Amazon
Uma grande diferença hoje e que ajuda muito é que a Amazon virou referência para muitas das melhores práticas logísticas, quebrando “tabus” e implementando algoritmos inteligentes também em muitas operações manuais. Sim, apesar da Amazon investir muito em automação e tecnologia, possui milhares de profissionais operacionais e de planejamento, que desenvolvem a intralogística e identificam práticas cada vez mais inteligentes.
Profissionais inovadores costumam não seguir muito as grandes “ondas” e/ou “modas” de mercado, tais como: “As 8 grandes…”, “10 passos para…”, “As 7 estratégias da…” e preferem avaliar demandas caso a caso, compreender as “dores” e os desafios específicos de cada negócio, bem como a melhor maneira de quebrar paradigmas, avançando na aplicação de práticas mais disruptivas que muitos ainda preferem não considerar.
Estocagem Caótica
Como o próprio nome diz… imagine o trabalho que dá (nada “lean” ou “enxuto”) espalhar caoticamente os itens, abastecendo cada endereço em um armazém e, além disso, misturar os mesmos com outros itens que já estão no mesmo endereço. Que “bagunça”, não é?
Pois é, tem alguns profissionais e empresas que nem devemos nos atrever a sugerir ideias como esta pois, mesmo tendo certeza absoluta que o sistema é mais eficiente, é necessário que o profissional e/ou a empresa já estejam vivenciando uma cultura inovadora e/ou disruptiva para compreender e aceitar, de uma maneira mais clara: por que o “CAOS” pode ser mais eficaz que a “ORGANIZAÇÃO” e em que condições isso acontece?
Para não abordar o tema apenas teoricamente, aproveito para explicar parte do conceito sobre a própria realidade da Amazon…
Imagine uma estrutura mundial com grandes números: ~ 15 milhões de m2 de estocagem, ~130 milhões de SKU’s, ~300 milhões de clientes e em constante mudança.
Estocar os itens de forma caótica, apesar de ser apenas uma das diferentes estratégias, diverge muito do que muitos imaginam quando pensam em um armazém bem organizado, com ruas abastecidas de produtos similares, distribuídos por família, popularidade etc.
O processo de estocagem caótica começa na entrada de produtos, onde determinados sku’s são distribuídos aleatoriamente nos espaços disponíveis de prateleiras (endereços) e assim, em um mesmo endereço, você pode encontrar um pote de molho de tomate, um hidratante, 1 saco de farinha e um fone de ouvido, por exemplo.
Obviamente que isso não deve nem ser imaginado por profissionais que atuam em empresas que não possuem uma boa tecnologia para gestão operacional (exemplo WMS) e também esqueça administrar este processo com planilhas Excel e/ou sistemas mais simples de gestão.
A estocagem caótica demanda sistemas mais robustos, abrangentes e que façam preferencialmente uma gestão integrada de estoques e armazenagem. Reparem a diferenciação aqui de estoques e armazenagem e, quando falamos em gestão integrada, podemos incluir também a demanda e os transportes. No caso da Amazon, tivemos a oportunidade de conhecer o sistema denominado SKUVault, com um dos representantes da empresa nos Estados Unidos, o jovem Matthew Brown e que nos apresentou a integração dos Sistema de Gestão de estoques com o de armazenagem, denominado IMS – Inventory Management System.
Figura: Visualizando informações vindas do IMS SKUVault:
Nível de Serviço vs. Produtividade Operacional
É óbvio que do ponto de vista de produtividade operacional, é muito mais complexo e nada “lean”, estocar aleatoriamente os produtos, mas é justamente na separação que o modelo se mostra competitivo em relação a outros, principalmente no que diz respeito a velocidade de atendimento (nível de serviço). Aí que a estratégia pode fazer diferença.
Com tantos clientes buscando por entregas cada vez mais rápidas (nível de serviço – ex.: Amazon Prime Now), as promessas em algumas cidades específicas dos Estados Unidos, para um determinado perfil de demanda, é de até 1 hora.
Todos já sabem que a pandemia acelerou a demanda dos consumidores pelas entregas em casa e quanto maior se torna a exigência em relação à velocidade da entrega, mais soluções que quebram os paradigmas são demandadas.
Assim, durante o planejamento, vai ficando claro que os processos convencionais que funcionavam bem no passado já não comportariam mais essa nova realidade e, como o modelo de estocagem caótica já estava testado e comprovado há anos, foi só acelerar sua aplicação.
Hoje, para a estocagem caótica, graças ao sistema de gerenciamento que inclui software com algoritmos de roteirização em armazéns e hardware (coletores e códigos de barras), os operadores sabem exatamente como localizar e apanhar cada item, mesmo estando tudo misturado. Além disso, o sistema de estocagem caótico inclui alguns benefícios adicionais já tradicionais, tais como:
- Uso do espaço: como todo o espaço determinado fica disponível para qualquer item, o sistema força os operadores a manter os espaços mais bem ocupados;
- Flexibilidade: o espaço de estocagem vazio é preenchido rapidamente com vários itens diferentes;
- Erros de Separação: certamente quando você procura, por exemplo, uma camiseta, dificilmente errará a cor ou tamanho se a mesma estiver junto com um fone de ouvido ou um pote de picles;
- Otimização de rota no armazém: o sistema também identifica rotas muito mais curtas e inteligentes (depende dos algoritmos empregados) e propicia a separação de pedidos de forma consolidada, acelerando a separação;
- Treinamento e Integração: o famoso “perdigueiro”, que sabe tudo onde está no armazém, perde obviamente sua capacidade e todos (experientes e/ou novos funcionários) estão nas mesmas condições operacionais. Muito mais simples para lidar com capacitação de novos operadores;
- “Slotting” mais inteligente: apesar da estocagem caótica, o sistema pode contribuir com as sugestões de espaços (“depots”, “armazéns”,”áreas”…) mais adequados baseados em classes que podem ser facilmente definidas em um WMS, acelerando ainda mais a separação (picking).
Requisitos básicos para implementar a Estocagem Caótica
Todo o projeto que está demandando estocagem aleatória/dinâmica ou caótica só poderá seguir em frente se alguns requisitos relacionados com a “Logística 4.0” já estiverem avançados:
- Qualidade de Informações (digitalização);
- Classificações de SKU’s (“Data Science”);
- Sistemas de Comunicação (conectividade/RF /IoT…);
- Sistema de Gerenciamento de Estoques;
- Sistemas de Gerenciamento de Armazéns.
Lembrando que, no caso dos sistemas, não basta ter. É necessário que se conheça os algoritmos que estão sendo implementados e se os mesmos atendem adequadamente os requisitos operacionais. Existem vários projetos no Brasil que operam com os melhores WMS do mundo e, por incrível que pareça, não foram implementados com funcionalidades básicas e obrigatórias. Mas esta é uma outra história…
Conclusão
Apesar das empresas no Brasil poderem operar com as melhores práticas (automatizadas ou não), existe ainda uma dificuldade enorme de se viabilizar soluções muito automatizadas quando se compara com a realidade de países mais desenvolvidos.
Assim, para superar estes desafios, em nosso país, não deveríamos esperar que algoritmos mais inteligentes, viessem já embarcados em soluções automatizadas, como muitas empresas já estão fazendo. Até porque, quando a inteligência já vem embarcada em um sistema de automação, os profissionais acabam se acomodando e não fazem mais muito esforço para compreender como o sistema opera (“isso é com os técnicos lá de fora…”).
É justamente aí que deveria estar o nosso diferencial para desenvolvermos soluções híbridas muito mais competitivas! Temos profissionais com total capacidade de desenvolver esta mesma inteligência nos seus sistemas não automatizados e extrair muito mais de seus sistemas integrados de gestão da demanda, estoques, armazenagem e transportes!
Pensem nisso e vamos em frente!
Eduardo BANZATO
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Logística de e-commerce refere-se ao planejamento, execução e controle das operações logísticas envolvidas na gestão de pedidos, armazenagem, embalagem e entrega de produtos comprados online aos clientes.
Para fazer logística para o e-commerce, é essencial planejar cuidadosamente os processos de recebimento de pedidos, gestão de estoque, embalagem eficiente e escolha de opções de transporte adequadas para garantir entregas rápidas e confiáveis aos clientes.
Logística online é o conjunto de processos e atividades logísticas realizadas exclusivamente através da internet, abrangendo desde a gestão de pedidos até a entrega final ao cliente.
Os principais desafios da logística para e-commerce incluem gestão de estoque, otimização de processos de armazenagem e embalagem, escolha de opções de transporte eficientes, gestão de devoluções e garantia de uma experiência de entrega satisfatória para os clientes.