O Futuro da Excelência Operacional no Mundo Digital
Eduardo Banzato and Boston Dynamics
O Brasil é, obviamente, muito diferente de outros países, mas muitos esquecem que, assim como a nossa diversidade cultural, temos aqui muitas diferentes realidades.
Sem querer fazer qualquer tipo de juízo de valor, aqui podemos observar realidades “americanas”, “japonesas”, “alemãs”, “chinesas”… que convivem com realidades “venezuelanas”, “angolanas”, “haitianas”, “bolivianas”, entre inúmeras outras.
Digo isso pois, nos últimos 40 anos, trabalhando com uma super diversidade de pequenas, médias e grandes empresas, nos incomodamos quando pesquisas generalizam e reduzem o Brasil a algumas simples MÉDIAS. Sempre quando isso acontece vem à mente os nossos enormes DESVIOS PADRÕES… e por isso que, recentemente, tenho divulgado algumas iniciativas de empresas no Brasil que buscam a excelência por meio do digital/automação.
AUTOMAÇÃO PÓS-PANDEMIA: ACELERAÇÃO OU DESACELERAÇÃO?
No início de 2020, pouco antes da pandemia, em muitos países do mundo já se percebia um forte movimento de automação e aceleração digital motivado por uma certa “escassez” de mão-de-obra, principalmente de intralogística, para atender a crescente demanda do e-commerce e da personalização em massa. Com a crise, foram justamente estas empresas, que já estavam mais avançadas na gestão de suas cadeias de suprimentos (ex.: tecnologia/e-commerce), as que mais cresceram.
Aqui no Brasil, apesar de grandes diferenças conjunturais, determinados nichos também não ficaram para trás, cresceram muito e, por esse motivo, já retomaram suas agendas de projetos de automação (Digital Supply Chain), o que já percebemos no fim de 2020 por meio do aumento na quantidade de eventos e projetos de automação na intralogística e novos planos diretores.
Desta forma, existem cenários que continuarão acelerando e, se a estratégia “digital”, que integra automação/robótica, estiver no caminho da competitividade, certamente se viabilizará em muitas empresas pós-pandemia, valorizando e abrindo cada vez mais oportunidades de trabalhos muito mais nobres para os seres humanos (pessoas).
Independentemente do momento que nossa empresa vive, o importante é estar sempre atento ao mercado e não apenas apreciar e curtir as incríveis soluções que surgem diariamente! Cada novo projeto, aparentemente acelerado pela “onda 4.0” e pela pandemia, tem uma história que vale a pena ser melhor compreendida para saber se este é o momento ideal de investir, inovar e sair na frente da concorrência.
São 2 situações que acontecem quando não estamos muito conectados à realidade:
1. Tomar uma decisão antecipada e arcar com os custos de desenvolvimento e os riscos da solução se tornar obsoleta antes de seu retorno econômico;
2. Tomar uma decisão atrasada e ver a “concorrência” dominar o mercado antes mesmo que você perceba.
Mas, entre tantas soluções e histórias de automação, vamos tomar o exemplo de uma aqui que temos acompanhado há alguns anos e que, neste momento, vale dedicar certa atenção: Robô “Handle” (Boston Dynamics).
BOSTON DYNAMICS
A empresa nasceu em 1992, fruto de um trabalho de anos de Marc Raibert, um professor de Engenharia Elétrica e Ciência da Computação do MIT (Massachusetts Institute of Technology). Obviamente que todos, sem exceção, já devem ter visto seus robôs humanoides que pulam, saltam, dançam etc.
Legal, mas e daí? Observamos estes robôs há anos e nunca vimos os mesmos aplicados em escala comercial, não é mesmo? Então, por que dar mais atenção a eles agora?
Para responder esta questão, vamos voltar à história da empresa…
No seu início, o desenvolvimento em robótica veio a partir de investimentos americanos em operações militares (ex.: treinamentos) e foi apenas em 2013, vinte anos após sua fundação, que a Boston Dynamics foi adquirida pelo Google. “Bom…”, pensou Raibert, “…agora vai, pois o Google certamente tem planos muito maiores e recursos para dar continuidade ao desenvolvimento!” mas, em março de 2016, o Google disponibilizou a Boston Dynamics para venda e, em 2017, a empresa foi adquirida pelo SoftBank (Japão).
Ao longo dos anos, a empresa desenvolveu uma série de diferentes robôs (BigDog, Spot, Atlas, Pick, Handle…), adquiriu a Kinema System (startup do Vale do Silício especializada em visão 3D para robôs) e, finalmente, o robô Pick e Spot começaram a ser comercializados no mercado. A partir destes movimentos, já ficou clara também a intenção em comercializar o robô “Handle” que, segundo publicações, tem seu lançamento comercial previsto para 2022. Opa… e é aí que quem atua na busca da excelência operacional precisa se manter “antenado”, pois este robô pode impactar na intralogística!
Em dezembro de 2020, após mais de 30 anos de história, a empresa foi adquirida pela Hyundai Motor Group (80%) + SoftBank (20%), operação esta que deve ainda ser consolidada em 2021 e que nos remete a conhecer também a história da Hyundai, bem como os seus planos para a economia do futuro.
Enfim, dentro deste novo cenário (Hyundai Motor Group), o robô “Handle” deve continuar avançando…
Toda essa evolução também motivaram nosso interesse e, em 2019, estivemos visitando a Boston Dynamics (Chicago) e 2020 (Atlanta), obviamente sem a intenção de adquirir e/ou comercializar o robô, mas compreender como poderíamos contribuir com o desenvolvimento da solução a partir de experiências de centenas de operações logísticas no Brasil. Muitos, certamente, vão pensar: “Isso nunca se viabilizará no Brasil…”. Pois é, talvez seja justamente por este pensamento que muitas soluções se viabilizam sempre nos nichos de excelência (ex.: empresas competitivas) que estão desenvolvendo e implementando tecnologias inovadoras em intralogística e somente depois nos seguidores. Por isso, vamos em frente mesmo entre a maioria de descrentes!
Mas afinal, entre todos os robôs da Boston Dynanics, quem é o “Handle”?
ROBÔ “HANDLE”
É um robô manipulador (elétrico e hidráulico), com duas pernas flexíveis sobre rodas, tem até 2m de altura e circula em até 14 km/h com uma autonomia de até 25km com uma carga de bateria. (Acesse o vídeo AQUI:)
O “Handle” usa muitos dos princípios de dinâmica, equilíbrio e manipulação desenvolvidos há anos pela Boston Dynamics que, entre outros pontos, destaca: “Queríamos construir um robô que pudesse ir onde as pessoas vão. As tarefas comumente referidas como “repetitivas, pesadas, sujas e perigosas” não ocorrem apenas em um chão de fábrica organizado com o piso absolutamente perfeito, elas ocorrem no mundo real e na infraestrutura existente, lugares onde ser eficaz requer manobras eventuais em terrenos acidentados, escadarias, passarelas, portas ou passagens estreitas e desordenadas. Não queremos que os ambientes se adaptem às máquinas, mas sim as máquinas devem ser capazes de se adaptar aos ambientes.”
Vale destacar também que a inteligência artificial utilizada pelos robôs da Boston Dynamics é chamada de “inteligência atlética”, que permite que o robô vença os obstáculos de forma autônoma e sem tropeços e riscos de acidentes com humanos.
O “know-how” adquirido ao longo dos últimos 35 anos, principalmente o relacionado ao equilíbrio humano em robôs, não se encontra em literatura técnica. Por isso penso que o desafio agora será o de disponibilizar todo este conhecimento por meio de soluções cada vez mais acessíveis técnica e economicamente.
Brian Nachtigall, Business Development, Strategy and Product Management in Robotics & Automation da Boston Dynamics destaca um ponto muito importante: “Os desafios da automação no ambiente da intralogística (armazéns e centros de distribuição), principalmente nesta dinâmica do e-commerce, são bem diferentes do ambiente de manufatura, onde muita automação nasceu. Na manufatura, a automação e robótica são desenvolvidas em torno de tarefas muito repetitivas onde temos domínio do material que estamos lidando e do trabalho que estamos fazendo. Já os ambientes de armazéns e centros de distribuição têm muito mais variabilidade, observa ele, e por isso que muitos esforços para introduzir a automação nestes ambientes falharam no passado.”
Em 2020, a Federação Internacional de Robótica (IFR) divulgou uma visão de dois anos para a indústria de robótica onde mostra que os robôs estão se tornando cada vez mais inteligentes e colaborativos, características fundamentais para sua adaptabilidade na intralogística. Neste contexto, perceba que a Boston Dynamics, com suas soluções extremamente flexíveis e de fácil adaptação pode, em médio prazo, ser cada vez mais competitiva na busca da Excelência Operacional.
Aproveite aqui para deixar o seu comentário a respeito de seu interesse em conhecer mais histórias de empresas que têm transformado, muitas vezes silenciosamente, as operações logísticas (intralogística) nas Cadeias de Suprimentos.
Eduardo Banzato ( autor )
Grato pela atenção! Vamos em frente!