O Que Esperar do Transporte Rodoviário de Cargas – TRC?
Após muitas pesquisas e participação em inúmeros seminários pudemos perceber que houve poucas mudanças efetivas no segmento de transportes, porém com uma importante evolução no fluxo de informações apoiada por tecnologia da informação (conectividade / logística 4.0), mas também uma crescente utilização de termos em inglês (i*), que apesar do discurso de modernidade por vezes indicam algum conceito novo, mas em boa parte apenas novas siglas, ou seja, mais do mesmo.
O TRC continua sendo o modal mais utilizado no Brasil (~60%), devido à falta de disponibilidade, baixa frequência e maior transit time dos demais modais (que normalmente dependem de transbordo nas duas pontas), apesar da má conservação de boa parte das rodovias, porém tem a facilidade do porta-a-porta (desde a coleta até a entrega);
Devemos ressaltar entretanto que boa parte dos processos mereceriam mais atenção quanto ao entendimento da malha logística, para avaliar eventual necessidade de Centros de Distribuição e/ou operações de Cross-Docking, além da avaliação do potencial de utilização de outros modais.
A partir do entendimento da malha, para começar a definir os veículos de TRC que serão utilizados devemos identificar, além dos volumes a transportar e respectiva frequência, características e restrições de cada de rota (coleta, transferência, distribuição, etc.) de longa, média e curta distância (i* “first mile”, “midle mile” e “last mile”).
O passo seguinte será resolver o dilema entre: ter frota própria, ou seja, estrutura e gestão de transportadora, capital imobilizado (e/ou subcontratação de agregados e/ou autônomos), seguros, manutenção, motoristas, ocupação (carregamento total ou parcial, com carga total ou fracionada) e aproveitamento (veículo rodando carregado x retorno); em confronto com a contratação de empresas de transporte e as conhecidas dificuldades de gestão de terceiros;
No caso de contratação, além da elaboração de uma licitação (i* BID) bem estruturada, se destacam alguns problemas: da transportadora a falta de disponibilidade de frota quando necessário (tipos de veículos e/ou picos de demanda) e do embarcador que não dá visibilidade, na busca por menor preço não mantém fidelidade e critérios de avaliação (ônus e bônus) que muitas vezes não são claros ;
Por melhor que sejam os indicadores dos serviços prestados pelas transportadoras é necessário sempre manter a vigilância;
No caso do TRC, existem alguns problemas potenciais: um deles é a tabela de fretes, que impõe determinados valores que muitas vezes não são praticados e as constantes ameaças de greve por parte dos transportadores autônomos (“caminhoneiros”), sendo que em ambas as situações seria importante dispor da alternativa de utilização de outros modais;
Em relação a outros modais, que poderiam servir como alternativa ao TRC, podemos citar:
O ferroviário que representa atualmente ~25% do total transportado, é bom para grandes volumes/pesos, produtos de médio e baixo valor agregado e distancias acima 400km a 500km, com economia entre ~20% a 30% no custo, porém tem limitação de disponibilidade e frequência e maior transit-time (origem => terminais => destino, além das esperas);
Nota: Está em fase de processo para privatização de diversos novos trechos (~R$13 bilhões) e irá facilitar principalmente o escoamento da produção agrícola e indiretamente libera veículos para o TRC;
A cabotagem (transporte marítimo na costa) representa ~11% da matriz e como o Brasil tem ~8.000km de costa que deveria ser melhor aproveitado, com potencial economia de custo entre 20% a 30%, tem limites de disponibilidade e frequência e depende de transbordo para os portos, o que gera maior transit-time (origem => e terminais => destino, além das esperas);
A novidade é o projeto de lei conhecido como “BR do MAR” que tem como objetivo aumentar a oferta da cabotagem e principalmente reduzir custos, prevendo ampliar o volume de contêineres, podendo melhorar o equilíbrio da matriz de transporte;
Finalmente devemos lembrar do transporte aéreo de cargas representa aproximadamente 1% da matriz de transportes, que apesar do custo elevado é muito usado para produtos de alto valor agregado e perecíveis;
O advento da pandemia gerou limitações severas no comercio internacional, atrasos de navios e falta de contêineres, o que por sua vez implicou em aumento da demanda do transporte aéreo, também no cenário nacional.
A crescente preocupação com a sustentabilidade (ambiental, social e econômica) nos transportes, para reduzir a emissão de gases de efeito estufa tem apresentado alguns reflexos interessantes, por exemplo: utilização de cabotagem e ferrovia (mesmo com maior transit time i*), além de veículos e motos elétricas, e bicicletas utilizadas na “última milha” (i* green last mile).
Finalmente a tecnologia da informação é um dos destaques para a evolução dos transportes, com aplicações cada vez mais intensas na indústria e no comércio, que além de aplicativos específicos (roteirizador, por exemplo) dispõe de sistemas integrados das informações (ERP´s) correlatas ao supply chain e logística (desde o planejamento e compra de matérias, recebimento, produção, armazenagem, vendas, expedição e transportes) que facilitam a programação e o controle dos transportes. Como exemplo podemos citar as chamadas torres de controle (i* “transportation central tower”), que aumentam sensivelmente a eficácia do processo.
Do ponto de vista da gestão a tecnologia viabilizou o rápido fluxo de informações, de “ponta a ponta” (i* end-to-end”), desde a origem (planejamento, compras e recebimento), passando por produção, armazenagem, vendas, expedição e transporte, até o destino final (cliente).
A conclusão e uma das recomendações é que, além da modernização e utilização de todos os recursos citados acima, devemos treinar e integrar as equipes e “fazer o básico bem-feito”.