Kaizen e a Incrível Diversidade Humana
Fazer escolhas faz parte da natureza humana e nós, seres humanos que somos, interpretamos estas escolhas das mais diferentes formas e por isso não tenho a pretensão aqui de estar certo ou errado, ou seja, apenas quero registrar algumas de minhas experiências e observações em mais de 30 anos de vida profissional.
Em minhas primeiras missões de estudos ao Japão, eu tinha um interesse pessoal:
identificar como os japoneses administravam a melhoria contínua e compreender qual era a influência da cultura popular na efetividade da aplicação de conceitos como o Kaizen.
Obviamente que, após mais de 600 visitas em empresas japonesas e mais de 1.500 projetos, aqui no Brasil, envolvendo justamente processos de melhoria, nossa opinião fica influenciada por estas experiências, diferente por exemplo das experiências de vários colegas que se dedicaram ao modelo americano e/ou europeu etc., mas que também são absolutamente válidos.
Para simplificar um pequeno espectro desta visão, observe a matriz que apresenta, de forma lúdica, alguns perfis profissionais que já encontramos pelas empresas aqui no Brasil e que, se não forem bem administrados por uma metodologia de implementação, podem implicar em um programa não sustentável no longo prazo.
A matriz de perfil profissional é dividida em 4 quadrantes, determinados pelo nível de CONHECIMENTO, bem como da positividade das ATITUDES profissionais em relação à Melhoria Contínua.
QUADRANTE 1: ELIMINAR OU CONSCIENTIZAR
Apesar destes perfis profissionais serem em menor número em uma organização, são muitas vezes difíceis de localizar e podem facilmente interromper a jornada da empresa rumo a Melhoria Contínua. Vamos a eles:
1. Intelectuais de Escritório: Sabem tudo de Kaizen, usam os termos corretos, já leram todos os livros sobre o tema, insistem sobre a forma “correta” de se implementar, mas não gostam muito de estar no “gemba” (onde as coisas efetivamente acontecem);
2. Fantasmas com Conteúdo: Estes, apesar de saberem muito, se “escondem” e não participam de reuniões, não apoiam projetos, nunca têm tempo e assim acabam não assumindo responsabilidades. Mas certamente farão as críticas àqueles que fazem acontecer;
3. Chefe, não Líder: Já é um conhecido tradicional de muitas empresas, são aqueles que não dão muita atenção às ideias simples dos funcionários, pois estão realizando tarefas “mais importantes”, cancelam e nem dão “feedback” quando percebem que a ideia será muito complexa de se implementar, etc.
4. A “Turma do Contra”: Estava eu falando com um integrante desta turma certa vez e eles me disseram… “Banzato, entenda, nós somos contra por princípio e se percebermos que essas ideias podem gerar demissão, a linha de produção vai parar!”. E não é que eles tinham razão… infelizmente a empresa deixou de produzir lá no ABC – mas enfim, ao invés de se conscientizarem por amor, vão se conscientizando pela dor;
5. Negociadores e Sabotadores: Negociam ideias em troca de dinheiro e sabotam ideias que podem não impactar em ganhos pessoais. Ex.: Se sou da engenharia e a empresa não paga prêmio pela minha ideia, então vou até a produção e negocio a minha ideia com algum operador e rachamos o prêmio…
QUADRANTE 2: CONSCIENTIZAR E TREINAR
Para muitas empresas no Brasil, este quadrante ainda representa uma grande parcela dos profissionais, participam de forma absolutamente descompromissada de ações e programas de melhoria e, pelo fato de não existir nenhuma rotina que os comprometa com a melhoria contínua, vão levando o dia a dia “na boa”. Vamos a eles:
6. Alienados e Manipulados: Não sabem o que está acontecendo e não se esforçam em saber. Assim, são facilmente manipulados pelos integrantes do quadrante 1. Muitos acreditam que melhoria contínua não faz parte da sua função, que é trabalho adicional e não estão sendo remunerados para isso;
7. Fantasmas sem Conteúdo: Não querem se comprometer com mais trabalho, vivem se “escondendo” e não participam de reuniões, não apoiam os colegas e assim acabam não assumindo mais responsabilidades. Não vão criticar ninguém… aliás, desaparecem de fato ou ficam no banheiro (ex.: vendo “Whatsapp”);
8. Largados e Folgados: Geralmente são funcionários ligados aos chefes que não são líderes e por isso ficam largados, esperando ordens. Se não chegar, melhor. Este perfil profissional gosta do conceito “menos é mais – menos trabalho é mais folga…”;
9. Vou Perder o Emprego: O fato de não saberem o que está acontecendo, ficam sempre na expectativa de serem demitidos. Se algum supervisor chama para conversar, já pensam no “pior” que, dependendo do caso, para muitos, ainda é o “melhor”, pois é exatamente isto que buscavam (os seus “direitos”);
10. Tudo é Piada: Kkkkkkk… Esse pessoal é assim! O foco é zoar, contar piada, compartilhar conteúdo “raso”. Em salas de treinamento, não focam muito no conteúdo a ser apresentado, mas mais no amigo a ser zoado e geralmente se posicionam no fundão. Mas se sentem bem assim, pois as piadas compensam o ambiente corporativo, que muitas vezes não é saudável;
QUADRANTE 3: TREINAR E VALORIZAR
Tem empresas que podem nunca terem ouvido falar em Kaizen, mas possuem verdadeiros heróis que fazem com que a mesma prospere a duras penas. Ainda existem empresas no Brasil com muitos profissionais com esta característica e é importante valorizar e envolver esses profissionais adequadamente em uma implementação para que eles se tornem aliados e não inimigos do modelo de gestão da Melhoria Contínua. Vamos a eles:
11. Missão Dada é Missão Cumprida: Não sabem bem porque executam uma determinada tarefa e são muito dependente das ordens, mas quanto a execução, podem ficar tranquilo… Fazem acontecer independentemente dos desafios que encontram pela frente!;
12. Herói de Processos Ruins: Ninguém supera o seu esforço descomunal e não poupa esforços para alcançar as metas. Mesmo completamente arrebentado, sente orgulho por ter ajudado a empresa e não se importa com a falta de apoio dos colegas. É um orgulho servir!;
13. Esforço sem conteúdo: O fato de não terem nenhum conhecimento sobre Melhoria Contínua leva muitos profissionais a se matarem pela “Eficiência”, mas perderem o foco da “Eficácia”. Assim, apesar do esforço, a empresa não está tendo bons resultados;
14. No limite da saúde: Empresas que não investem em planejamento adequado dos recursos levam seus funcionários para os hospitais. Profissionais que não possuem conhecimento para questionar o processo e são absolutamente comprometidos com a empresa, podem acabar em uma cama de hospital ou…;
15. Aprendendo a Aprender: O profissional comprometido, que tem a chance de estudar, começa também a visualizar a passagem que leva do Quadrante 3 para o Quadrante 4. Mais importante que estudar é aprender a aprender… Isso faz manter em movimento o ciclo da Melhoria Contínua;
QUADRANTE 4: RECONHECER E APRIMORAR
As empresas no Brasil que conseguiram criar um ambiente favorável a Melhoria Contínua (e são centenas) já possuem muitos profissionais neste 4º quadrante. Obviamente, existem muitas formas de visualizar a Melhoria Contínua (ex.: Operacional, Tática e Estratégica – abordagem IMAM, similar a de Masaaki Imai, “pai” do Kaizen) e assim, a definição dos perfis profissionais deste quadrante varia conforme metodologia de implementação. Vamos a eles:
16. Caçador de Resultados: Especialistas em melhoria contínua, com formação técnica especializada em ferramentas específicas (ex.: análises estatísticas), programação, etc. Possuem consciência e conhecimento de como podem dedicar seu tempo e retornar resultados financeiros para a empresa e, consequentemente, para si próprio;
17. Criativo e Econômico: Além do conhecimento e capacidade analítica, possui criatividade e se desafia continuamente para criar soluções de baixo investimento e alto retorno. Sim, se sua empresa tem poucos profissionais com estas características, invista e vá atrás;
18. Kaizen é Amor ao Próximo: Kai –> Mudar e Zen –> Melhor… a partir de muitas observações e comportamentos voltados a melhoria contínua, percebemos que o ciclo contínuo de mudar para melhor tem uma visão mais ampla e que envolve o AMOR na visão de Cristo, onde fazer o bem olhando apenas o próximo tem um grande poder multiplicador;
19. É Dando que se Recebe: Se você ainda não percebeu a força de princípios básicos, tais como: “gentileza gera gentileza”, melhorar o processo para o seu próximo sem pensar no retorno, mudar para melhor como um modo de vida… Pare e avalie! Por exemplo, eu, compartilhando estas minhas experiências não espero absolutamente nenhum retorno, mas sei que posso ajudar muita gente que, assim como eu, fui e continuo sendo ajudado;
20. Protagonistas da Melhoria Contínua: E você? Também é protagonista da Melhoria Contínua? Interage com pessoas? Passa seus conhecimento? Senta na primeira fila para aprender? Implementa as melhorias para o próximo? Comemora e reconhece os esforços? Siga em frente!
Para refletirmos…
Avançar com uma estratégia de implementação da Melhoria Contínua não é algo tão simples. A diversidade humana é complexa o suficiente para demandar atenção específica em pontos que ainda não foi possível colocar em algoritmos, livros e/ou artigos como este.
Somente o verdadeiro respeito profissional entre os integrantes de um time que irá se sobrepor a qualquer diferença conceitual, ideológica, social… Ouça de fato os conhecimentos dos profissionais de Recursos Humanos, interprete o que os líderes desejam para o negócio, dê atenção aqueles que estão no “gemba” e fazem acontecer. Apoie as lideranças, equipes técnicas, analistas… não esqueça de envolver ninguém!
Sucesso a todos!
O método Kaizen é uma filosofia de melhoria contínua, originária do Japão, que enfatiza a implementação de pequenas mudanças incrementais em processos e operações para alcançar melhorias significativas ao longo do tempo.
Kaizen é um conceito japonês que significa melhoria contínua, enfocando em pequenas mudanças incrementais em processos, visando aprimorar a eficiência e a qualidade de forma constante.
Kaizen significa “melhoria contínua” em japonês, sendo uma filosofia que visa aperfeiçoar processos por meio de pequenas mudanças incrementais ao longo do tempo.
As sete etapas do Kaizen incluem: identificar problemas, analisar a situação atual, desenvolver soluções, implementar mudanças, avaliar resultados, padronizar processos e repetir o ciclo de melhoria contínua.