A Contribuição da Logística Reversa de Embalagens Para a Sustentabilidade
O acelerado consumo dos recursos naturais e a dificuldade em sua reinserção no ciclo ecológico natural, tem alterado as condições climáticas e ambientais do nosso planeta. A logística tem função vital para as ações de reequilíbrio.
Temos visto nos noticiários recentes, que cada vez mais ocorrem climáticos eventos que fogem a média dos últimos séculos em termos de temperatura e comportamento das chuvas de forma geral. É quase consenso que as causas estão vinculadas a ações humanas sobre a natureza, quer na inadequada extração de recursos naturais sem os devidos cuidados, quer na destruição de biomas sem análise das consequências em médio em longo prazo.
Como resultado dessas práticas, a partir dos anos 1990, as mudanças climáticas se aceleraram causando um efeito paradoxal para a humanidade, que extrai recursos da natureza para aumentar o conforto e as condições de vida, mas perde ambos quando eventos naturais de forte impacto, como tempestades e ondas de calor muito fortes ocorrem.
AS EMBALAGENS:
As embalagens, especialmente as de origem florestal (papel) e petrolífera (plásticos), são as que mais geram estragos no meio ambiente quando descartadas. O descarte físico inadequado de embalagens tem aumentado o volume de lixo inservível que agride a natureza, gerando poluição ambiental crescente.
E um outro grande problema tem sido a destruição inadequada de embalagens, frequentemente por queima natural ou incineração sem os devidos procedimentos, gerando crescente poluição atmosférica e contribuindo para o aumento do efeito estufa.
PLANEJAMENTO:
Talvez um pouco tardiamente na opinião dos especialistas em meio ambiente, ações de contenção da poluição ambiental causada pelo descarte de embalagens, começam a ser seriamente tomadas pelas grandes corporações, inseridas no contexto de preservação através de um processo de economia circular.
Com ações técnicas e aplicação de processos de logística de recolhimento e tratamento, indústrias de embalagens e mercado consumidor, estão trabalhando juntos para frear o avanço dos impactos indesejáveis no clima e meio ambiente.
Podemos classificar como grandes focos no desenvolvimento de projetos de embalagens ecologicamente corretas:
- Formas de produção que considerem recursos otimizados e não poluentes.
- Formas de dar utilidade ao resíduo (embalagem já usada), considerando potencial reutilização prática direta, sem transformação, em outra função.
- Formas de tratar a embalagem que não pode ser reutilizada diretamente, no sentido de transformá-la, descartá-la ou destruí-la sem gerar poluição através de processos de neutralização, tornando os resíduos inertes e úteis aos processos naturais.
A importância da logística neste contexto é fundamental no recolhimento de embalagens, através dos meios mais adequados para a acumulação e transporte utilizando diversos modais, no tratamento e na destinação final.
Por isso, os planos de operações industriais e de distribuição com visão ampla da cadeia de abastecimento (Supply Chain), devem considerar em todos os seus elos, não apenas a produção, mas também o adequado tratamento das embalagens quanto ao seu descarte, com foco na transformação e possível reutilização, sendo a logística de recolhimento, fundamental para o sucesso das ações.
EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA DOS MATERIAIS E UTILIZAÇÃO:
É possível ver iniciativas, inclusive baseadas em legislação, como o incentivo a redução do uso indiscriminado das sacolas plásticas descartáveis nos supermercados, como ocorre em São Paulo onde as mesmas, são “vendidas” na boca do caixa. Com isso, o usuário pensa melhor se precisa ou não da embalagem plástica e tem a opção de levar a sua própria sacola retornável, também vendida na boca do caixa.
Outra prática ecologicamente correta que está crescendo, é a dos vasilhames de vidro retornáveis, principalmente para refrigerantes e cerveja, uma prática comum décadas atrás, que chegou a ser extinta. A “modernidade” das garrafas PET, rem se mostrado cruel, não pela sua incontestável praticidade, mas pelas práticas inadequadas de descarte na natureza.
Assim como no caso das sacolas plásticas, existe espaço para a manutenção e até crescimento do uso das garrafas PET, desde que sejam pensadas ações como a conscientização da população quanto ao descarte, o incentivo ao recolhimento, e o desenvolvimento de materiais biodegradáveis ou que sejam possíveis de ser reaproveitados. No momento atual, o trade-off entre custo logístico e custo ambiental, não está sendo favorável e é urgente reverter este resultado.
ALGUMAS AÇÕES QUE ESTÃO SENDO IMPLEMENTADAS:
É conhecido que o Brasil possui uma das legislações de proteção ambiental mais avançadas do mundo. Embora em algumas atividades e setores ainda existam resistências, temos exemplos muito positivos, como o trabalho do INPEV, o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias, entidade sem fim lucrativo, que atua desde 2002 atendendo a lei federal 9.974/00 para a destinação e manejo ambientalmente correto das embalagens vazias de defensivos agrícolas. O instituto é sustentado por mais de 100 empresas e realiza um trabalho de logística reversa altamente capilarizada. Em 2022 foram quase 54 mil toneladas de embalagens recolhidas, sendo 93% deste volume reciclado, transformado em produtos como conduítes, caixas de bateria automotiva e tubos, e 7% incinerados adequadamente.
Algumas ações diretas também estão sendo desenvolvidas, como reflorestamento de áreas degradadas e iniciativas através de parceria dos governos com a iniciativa privada, como por exemplo a despoluição do Rio Pinheiros em São Paulo, já considerado um dos rios mais poluídos do mundo e que está avançando muito satisfatoriamente.
No segmento de embalagens de consumo, li nestes dias, uma reportagem publicada pelo site da All4pack, Feira de Embalagens de Paris cuja próxima edição deverá ser em Dezembro deste ano. Na reportagem, o diretor de embalagem e economia circular da L’Oreal, empresa de cosméticos mundialmente conhecida, Philippe Bonningue descreve as ações que estão sendo implementadas pela empresa, onde entre outras, as metas de que todas as embalagens até 2025 sejam reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis, meta para reduzir a própria quantidade de embalagens em 20% até 2030, uso de refis que limitam uso do plástico, e “recargas” em produtos das linhas de perfumes e maquiagens. Atualmente quase 70% do PET que a L’Oreal utiliza já são de origem reciclada. Concluindo, a sociedade precisa se conscientizar da importância de colaborar com a reciclagem e descarte correto das embalagens, não há outro caminho para que tenhamos no futuro um mundo sustentável.