Automação em Centros de Distribuição (Análise de Viabilidade)
A produtividade e otimização dos custos nas operações de um centro de distribuição está diretamente relacionada a tecnologia logística utilizada.
A automação nos processos e operações logísticas em centros de distribuição vem crescendo consistentemente ao longo das últimas décadas, tendo acelerado seu ritmo nos últimos anos. E a tendência é que este cenário persista até que em algum momento, seja atingido um ponto de equilíbrio definitivo entre investimentos e custos.
E como sabemos que este tal ponto de equilíbrio ainda não foi atingido? Posso citar alguns fortes motivos:
O avanço das inovações e criação de novos conceitos e tecnologias logísticas automatizadas para centros de distribuição, permanece acelerado, ou seja, ainda há muito a ser concebido e inventado.
Os custos de produção das tecnologias automatizadas vêm se reduzindo, por conta do aumento da escala da demanda e do desenvolvimento de processos para a produção das próprias tecnologias, reduzindo os valores de investimento.
A conclusão é de que, nos próximos anos, o acesso a tecnologias logísticas automatizadas (transelevadores, AGVs, AMRs, empilhadeiras autônomas, AS/RS, Pallet Shuttles, Sorters, Vertical Shuttles, Pick to Light, Voice Picking, Wearables, RFID, etc.) continuará a se acelerar, a quantidade de empresas fornecedoras poderá aumentar por uma globalização do segmento (ainda há muitas empresas de automação que atuam regionalmente mas com potencial de atuação global) e ao mesmo tempo, os investimentos serão proporcionalmente cada vez menores.
Com isto, a tendência indica que continuará havendo uma redução proporcional na demanda de tecnologias logísticas convencionais (mecanização tradicional, empilhadeiras com operadores, estruturas porta paletes convencionais, estruturas drive-in, blocagem, estanterias, etc.). Importante destacar que estas tecnologias não desaparecerão e provavelmente nunca chegaremos a um cenário de logística onde 100% dos centros de distribuição serão automatizados. Simplesmente porque continuarão havendo casos em que a automação não será necessária e viável. No futuro, continuará havendo espaço para todos os tipos de tecnologia.
O que é uma Análise de Viabilidade?
A palavra viável, provem do francês “viable”, onde “vie” é “vida” e “able” é “capaz de”, compondo-se ambas, “capaz de viver ou de ser vivido”. Assim, viabilidade se refere a algo que, “pode ser realizado” ou implementado, algo que é possível, pois irá gerar bons resultados.
Assim, a análise de viabilidade consiste em um estudo para entender o que pode ou não ser efetivamente realizado e implementado, no sentido de gerar os resultados esperados.
Qual a importância de uma Análise de Viabilidade de Automação de um Centro de Distribuição?
Simplesmente para evitar que ao automatizar um Centro de Distribuição, não o tornemos improdutivo, inútil ou inviável. E que muitos de nós, conhecem casos assim, onde a automação de um centro de distribuição foi decidida no impulso, ou na vontade do gestor ou ainda, porque o concorrente ou a empresa vizinha ou concorrente automatizou.
E então, o leitor pode perguntar:
– é possível que a automação, ao invés de melhorar o desempenho de um centro de distribuição, o piore?
A resposta é:
– Sim, é absolutamente possível e infelizmente existem casos que comprovam.
A palavra desempenho é ampla, e não pode ser utilizada apenas no sentido da velocidade ou produtividade em um processo logístico, pois compreende também os aspectos econômicos e financeiros, envolve investimentos e custos operacionais. Por isto, uma análise de viabilidade de automação de um centro de distribuição – total ou parcialmente – é absolutamente necessária.
Tipos de Análise de Viabilidade:
Podemos dividir a análise de viabilidade de automação em dois grandes blocos:
Análise de viabilidade técnica: consiste em avaliar se a automação de um processo, sob os aspectos técnicos, que compreendem a qualidade e produtividade, trará melhor resultado do que se este for realizado de forma convencional. Ou seja, se por exemplo, a automação nos garantir:
Maior quantidade de peças abastecidas ou separadas (ou kgs ou litros ou caixas ou qualquer unidade de medida) por unidade de tempo (dia, hora, minuto);
Maior capacidade de armazenagem em um determinado espaço considerando o volume cúbico (m³ por exemplo);
Maior capacidade de recebimento (veículos, pedidos, peças, unidades, etc.);
Maior capacidade de expedição (veículos, pedidos, peças, unidades, etc.).
Maior qualidade operacional como redução de perdas, redução de quebras, redução de erros no abastecimento e separação de produtos.
Análise de viabilidade econômica: avalia se o investimento na automação de um centro de distribuição (principalmente na soma dos valores investidos no sistema físico, sistema de supervisão, sistema de gestão das informações, instalação, treinamento, peças de reposição e transporte) trará economias financeiras, gerando payback (retorno sobre o investimento) dentro de um determinado período que a empresa considere adequado. O valor investido, mais os custos de oportunidade e financeiros (exemplo, juros de empréstimos e financiamentos) deve ser compensado por uma redução de custos operacionais, provenientes de:
Custos com pessoal (salários, benefícios, tributos);
Custos com manutenção (equipamentos e instalações);
Custos com instalações (locação, construção ou aquisição);
Custos de não qualidade (avarias, devoluções e retrabalhos);
Custos de vendas perdidas (pelo tempo de resposta insatisfatório).
Quais são os passos recomendados para a análise de viabilidade?
A ordem lógica é realizar uma análise em etapas “go” ou “no go” iniciando pela análise de viabilidade técnica, uma vez que, o que se espera em uma automação em um centro de distribuição, é que esta gere como requisitos, ganhos de qualidade, produtividade e na ocupação dos espaços.
Nesta etapa, devem ser avaliadas as diversas possíveis tecnologias e sua aderência aos processos realizados no centro de distribuição, considerando analisar os produtos, volumes, frequências de entrada e saída, além das características físicas como dimensões, formatos e pesos. Este estudo pode abrir um grande leque de possíveis formas de automação, que poderão ser tratadas como alternativas a serem comparadas entre si.
Se os requisitos (ganhos de qualidade, produtividade e ocupação dos espaços) não forem cumpridos, não fará sentido seguir para a análise de viabilidade econômica, e o estudo deverá ser classificado como “no go” e encerrado.
Se a etapa de análise de viabilidade técnica mostrar que a automação é viável, o estudo deve ser classificado como “go”, procedendo-se a análise de viabilidade econômica, onde serão avaliados os investimentos a serem realizados e a amplitude da redução de custos, com base no tempo de retorno e taxas de oportunidade financeira previamente definidas pela empresa.
Assim como na análise de viabilidade técnica, o estudo deverá ser classificado como “no go” e encerrado, caso não haja payback (retorno de investimento) dentro do período pré-definido.
Caso sejam encontradas uma ou mais alternativas, que indiquem payback dentro do período pré-definido, esta(s) será(ão) considerada(s) técnica e economicamente viáveis, indicando que o centro de distribuição poderá ser automatizado, e a empresa poderá então, iniciar a próxima etapa que é a de implementação.
Porque pré-definir um período para o payback?
Esta é uma questão que normalmente não é bem entendida pelos profissionais da logística, que por uma lógica de análise, entendem que, se há retorno de investimento em algum tempo, independente de quanto, há ganho financeiro e portanto, viabilidade.
A resposta está no fato de que, devemos entender os pontos que colocamos no início deste artigo:
O avanço das tecnologias, cuja velocidade continua em alta;
A redução dos valores de investimentos nas tecnologias automatizadas.
Se o payback ocorrer além do período pré-definido, corre-se o risco de a empresa estar “pagando o investimento” em uma tecnologia que já não será a mais adequada, e ao mesmo tempo, os investimentos para novas tecnologias serem menores. E esta análise não é simples, pois devem ser analisadas pelas diversas áreas da empresa, desde as projeções de demanda, os estoques planejados, tendências e perspectivas econômicas e de desenvolvimento das soluções de tecnologia logística, para se pré-definir o período aceitável para o payback.
Como um exemplo do nosso dia a dia:
Para avaliar se compramos um carro, ou um notebook ou um celular novo ou se ficamos com o que temos, ainda que mais antigo, sabemos que em algum momento estes produtos ficarão obsoletos, perderão valor e eficiência, terão maior necessidade de manutenção e perderão desempenho. E então avaliamos se o que temos “aguenta mais um pouco” e esperamos uma “nova geração” ou se é hora de substituir. Sabemos que não é uma análise tão fácil quanto parece.
Conclusão
A automação de um centro de distribuição deve obrigatoriamente ser decidida após uma detalhada análise de viabilidade técnica e econômica, seguindo essa ordem e considerando diversas possíveis alternativas de tecnologias logísticas.
A definição do período de retorno do investimento é um fator crítico e depende de previsões, estimativas e experiência quanto a visão futura, devendo ser feita criteriosamente, envolvendo em conjunto, profissionais da área técnica de logística, da área de gestão da demanda quanto as previsões de volumes de vendas e estoques, da área financeira sobre as perspectivas econômicas e o nível de gestão estratégica da empresa. Somente desta forma, será possível tomar a melhor decisão.
Metodologia, conhecimento técnico e uma análise de viabilidade absolutamente racional são os segredos para a melhor tomada de decisão quanto a automatizar um centro de distribuição.